Estava sentada na orla*, deliciosamente sentindo o friozinho do cair da noite, olhando o céu e respirando. Relaxando! Acendi um cigarro e a conversa da tarde voltou à minha mente.
Desde que me conscientizei que sou diferente da maioria das pessoas da minha idade, passei a potencializar isso e me orgulhar das diferenças. O julgamento dos outros deixou de ser importante quando notei a impossibilidade de conciliar minha felicidade com as expectativas que alimentavam a meu respeito.
Fossem meus pais, meus amigos ou namorados, ou gostavam de minha atitude ou se afastavam. Meu pai repetiu-me uma frase que trago comigo: “Vive de tal maneira que ninguém peque por tua culpa, e age de tal forma que ninguém sofra por tua causa!” E minha mãe ensinou-me que o corpo é uma jóia que nos foi dado de presente pelo Criador dos Mundos para que possamos atuar na Terra, aprender, desenvolver habilidades e abandoná-lo quando o tempo para isso chegasse. Dizendo isso, ela concluiu falando que o pudor é o sentimento de cuidado com esse corpo, sem atrair sobre si o pecado dos outros, o que me tornaria culpada por um erro!
Assim moldei minha personalidade. A meiguice que pode ser notada em mim não deve, de forma alguma, ser confundida com fraqueza. Sou extremamente severa, primeiro comigo mesma, depois com os outros. Ciente de meus defeitos, não julgo a ninguém. Sendo assim, não admito ser julgada.
Minha infância foi muito alegre, a proximidade com a natureza ensinou-me o amor, não o egoísta e possessivo, mas o amor que implica em severidade e limites. O amor que não chama para trás quem está prestes a cair num abismo sem notar o perigo, mas que puxa, ainda que de maneira brusca e rude, garantindo o salvamento. Tal qual quem está se afogando é salvo pelos cabelos para que não se agarre, desesperado, no pescoço do seu salvador, afogando a ambos.
Já a adolescência foi muito difícil. Na cidade grande, em escolas de pessoas muito diferentes de mim, a dor da rejeição, aprendizagem de decepções e traições, do que é a mentira, fizeram com que eu tomasse caminhos tristes, de muito sofrimento, magoas, angustias, e muita, mas muita dor mesmo. Deixei guardado tudo que havia aprendido na infância, que só foi despertar depois de muitas lágrimas. Foi assim que aprendi a confiar em mim, que ninguém é merecedor dessa confiança única que minha própria voz gritava dentro, no fundo da minh’alma. E chorando, aprendi o valor do sorriso. E a lição mais importante da minha vida. O mais importante na vida do ser humano é a confiança.
Após essa divagação sobre mim, volto à conversa dessa tarde. Conversava com um novo amigo – virtual - no MSN. Este, sem conhecer-me pessoalmente, disse ver-me muito meiga e menininha, sem nenhum atrativo especial. Isso remeteu-me a um poeta que encantou-me e rouba-me os pensamentos mais cálidos e francos. Este ultimo vê-me mulher de personalidade.
Quantos sentimentos o mundo virtual provoca. Não os julgo por suas opiniões a meu respeito. Não sou livro aberto, realmente, não o sou. Sou entrelinhas. Sou ser metamorfo que, feliz e orgulhosamente, erra, mas sempre cresce, aprende e se modifica. Sou camaleoa que se adapta ao ambiente. Sou atriz de qualquer papel. Choro por amor, por amigos, por dores que não me pertencem. Sou exatamente como sou, seja isso como for. Sou feliz!